Wednesday, October 10, 2007

Verde alface.

Quem trabalha numa filial de uma empresa com sede em Lisboa ponha o dedo no ar.
Nunca se sentiram os parentes pobres dessa mesma empresa? Nunca se sentiram discriminados em relação aos colegas da capital? Pois é, acredito que sim.
Quantas vezes precisaram de algum tipo de equipamento e em vez de a empresa adquirir equipamento novo receberam o equipamento que a sede já não quer porque acham que se é para a filial de fora de Lisboa "serve bem".
Pois é, infelizmente isto acontece na grande maioria das vezes. Até os próprios colegas têm por vezes atitudes para com os colegas de fora de Lisboa de alguma sobranceria e superioridade, acredito que nem se apercebam, afinal, já está nos genes...
No fundo, são pequenos exemplos do que se passa no país, a nível industrial, económico, político e até social.
Isto tudo para tentar perceber o porquê das cada vez mais acentuadas assimetrias que existem entre litoral e interior e sobretudo entre a região da grande Lisboa e o resto do país.
Os sucessivos Governos que nos têm (des)governado ao abrigo de interesses eleitorais, têm cedido de uma forma despudorada aos interesses alfacinhas, pois é, de facto,
de um universo total de 8.792,187, 1.909,504 encontram-se em Lisboa, segundo dados de 2006 publicados pela CNE - Comissão Nacional de Eleições, mais 462.554 eleitores que o Porto, o que torna a invicta a única cidade capaz de reivindicar alguma coisa junto do Governo. Santarém tem por exemplo 401.102, o que a torna mais "pobre" em termos eleitorais em 1.508, 402 cidadãos votantes do que Lisboa.
Desta forma, para ser eleito, basta ganhar Lisboa, tirar algum partido através dos "rebuçados" que vão sendo dados ao Norte e tirar o maior proveito possível dos militantes partidários das outras regiões.
E como é que se ganha Lisboa, da maneira que vamos vendo todos os dias. construindo um metro na margem sul do Tejo que ninguém utiliza, terminando a linha azul até ao Terreiro do Paço, uma obra que ainda está por provar a sua real utilidade, ao que parece querem fazer ainda uma nova ponte sobre o Tejo, quando a própria Vasco da Gama não apresenta normalmente congestionamento, etc... Ou seja, melhorando a cidade de Lisboa e esquecendo o resto do país.
Todas estas obras acima citadas, e outras tantas dariam para pelo menos dar alguma qualidade de vida a populações do interior às quais hoje em dia já nem lhe é permitido ficarem doentes, muito menos nascerem nas suas terras.
Esta cegueira eleitoral ataca até mesmo os poucos não Lisboetas (quando me refiro a não Lisboetas, não me refiro apenas a pessoas que não tenham nascido na capital, mas que ao não terem lá nascido, foram lá criadas) que chegaram ao poder nosso país. Foi a amnésia Lisboeta que levou Cavaco silva a esquecer que era um filho de Boliqueime, que levou Sócrates a esquecer que era Beirão. Aliás, o próprio acto de ver Sócrates a votar na Covilhã é tão hipócrita como eleitoralmente conveniente.
Também é verdade que por serem em maior número, são também os Lisboetas que contribuem com a maior fatia de impostos para o Estado, no entanto, nos estado em que estamos, é urgente uma discriminação positiva para o resto do país. Não, não me refiro a tirar de um lado para por noutro, refiro-me apenas a uma distribuição mais equilibrada de meios quer logísticos quer financeiros para todo o país.
A primeira regra para um governo conduzir bem os destinos do país é conhecer a realidade social, industrial e económica. Conhecer a forma como as populações distribuídas pelos quatro cantos do país e pelas regiões autónomas vivem é imperativo para responder de forma adequada às suas necessidades. E essas necessidades só podem ser conhecidas, estando no local e não passando apenas para inaugurar mais uma obra.
Infelizmente não é o que acontece, e por isso, vivemos num país em vias de desenvolvimento com uma capital de 1º mundo.

Mário Lima

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