Monday, April 21, 2008

Acordo ortográfico

Ponto prévio: nada tenho contra alterações que possam vir a ser feitas na língua portuguesa, sejam elas orais ou gramaticais.
A maneira como os povos comunicam tem sofrido as mais variadas alterações ao longo da história, tornando a língua num organismo vivo e por isso mesmo, mutável.
Uma demonstração disso, é compararmos um texto escrito por José Saramago no séc. XXI com um outro escrito por Gil Vicente, no séc. XVI.
É no entanto preocupante a tentativa de homogeneização da nossa língua, não só por me parecer uma clara submissão aos interesses brasileiros mas, sobretudo acabar com a diversidade entre a cultura linguística de cada um dos povos que falam a 5ª língua mais falada do planeta.
A beleza de uma língua está na diversidade da forma em que os vários povos a interpretam e a adaptam à sua cultura e ao seu modo de vida.
A língua portuguesa foi um importante legado deixado aos povos dos oito países em que o português é língua oficial, não sendo no entanto propriedade exclusiva nem de portugueses, nem de brasileiros, como este novo acordo quer fazer crer.
Com isto não quero dizer que tudo esteja bem no que à nossa língua diz respeito. De facto não está. É cada vez mais preocupante a quantidade de produtos que adquirimos nos supermercados e em outros locais, com rótulos em língua estrangeira, nomeadamente em espanhol. A solução, não passa no entanto em adaptar o modo como falamos ao modo brasileiro, de forma a beneficiarmos do facto de existirem cerca de 180 milhões de brasileiros, -in: http://www.brasil.gov.br/pais/sobre_brasil/- o que justificaria um investimento na tradução de rótulos de embalagens, software, manuais de instruções, sites da Internet, etc.
A solução para esse problema não passa na minha opinião por nos adaptarmos à sua forma de falar mas sim, pela consciencialização de todos nós para o facto de ao adquirirmos um qualquer produto temos não só o direito mas também o dever de exigir que esse mesmo produto seja devidamente traduzido para Português, caso contrário devemos deixar bem claro e por escrito o facto de um produto não vir traduzido.
A salvação da nossa forma não só de escrever e falar, mas também de pensar e sentir o português, depende do grau de exigência que nós próprios tenhamos para com a língua, e cada um de nós deve de pensar se prefere lutar pela nossa língua e pela nossa individualidade enquanto povo ou se por outro lado prefere assobiar para o lado e deixar que nos digam como devemos de ser Portugueses a partir de agora.

Mário Lima