Friday, September 28, 2007

Outra vez Abrantes.

São 21:45, acabam de voltar ao hotel um casal de turistas alemães que chegaram aqui por volta das 18:00. Pediram-me um mapa e que lhes indicasse como chegar ao centro e o que podiam ver em Abrantes, assim como um bom restaurante para jantar, e partiram à descoberta da nossa cidade.
Quando entraram, perguntei se tinham encontrado o restaurante, responderam-me que sim, que tinham gostado muito do restaurante mas que nunca tinham estado numa cidade assim e que não compreendiam como se podia viver assim no centro da cidade. Perguntei porquê, responderam que não existe nada no centro da cidade, nem cafés, nem bares, nem restaurantes, nem o que eles chamam de pequenos mercados, que penso serem as nossas mercearias ou mini-mercados e muito menos gente nas ruas.
Disseram ainda que a cidade não era minimamente aprazível para os turistas pois, procuraram informações turísticas em vários pontos da cidade sem nunca as encontrarem pois o posto de turismo já se encontrava fechado. Não conseguíram encontrar placas indicativas dos monumentos e igrejas em local algum. Ainda tentei argumentar que a má impressão que tinham da cidade se devia a não conhecerem os sítios onde podiam ir e daí a fraca opinião com que tinham ficado, ao que eles responderam que a ideia é exactamente não conhecer mas ficar a conhecer, mas que para isso são necessárias indicações.
Não podemos pedir a um alemão que encontre o Castelo ou a Igreja de S. Vicente.
Sendo certo que não se pode agradar a toda a gente, é certo que todas as críticas que este casal fez são verdadeiras.
Devo de dizer que a maioria das pessoas gosta da cidade e da sua beleza, mas todas as críticas feitas pelo referido casal são comuns à maioria das pessoas, em particular à falta de comércio e de vida social. E é por serem comuns que deveriam estar perfeitamente identificadas por quem decide e já deveriam estar resolvidas e não estão, e não é pelo facto de existirem coisas bem que se vai deixar de resolver o que está mal.
De nada serve termos um belíssimo património se não andam pessoas na rua para o apreciar e se quem o quer apreciar não o encontra.
É urgente repensar o que queremos para a nossa cidade e sobretudo para o centro histórico, que de dia para dia se vai tornando cada vez mais moribundo. É certo que está bastante bem arranjado e até planeado eu diria, e nesse aspecto a câmara parece-me ter feito um bom trabalho. Há quem critique a não circulação de automóveis no centro histórico, mas o que é certo é que existem três bons parques de estacionamento em volta do centro em que de qualquer um deles facilmente se acede ao centro, e podemos circular nos pontos nevrálgicos. No entanto, a sensação que fica a quem conhece o plano que levou à remodelação e reestruturação do centro histórico é que o trabalho que envolvia obra foi todo feito e em geral bem, mas o chamado trabalho de cepa e de desenvolvimento e planeamento estratégico ficou na gaveta. Onde estão as salas de cinema planeadas para a rua da garagem dos claras? Onde estão as chamadas lojas âncora que a câmara pretendia atrair para a cidade à razão de pelo menos uma por cada rua? Onde andam as pessoas??? Porque razão a pouco e pouco a maioria dos serviços tem sido afastada do centro da cidade (excepção feita à repartição de finanças).
Para quando um levantamento sério das necessidades comerciais da cidade que permitiria constatar que tipo de comércio existe em excesso e qual é o que está em défice permitindo desta forma a criação de uma espécie de "bolsa" comercial em que seriam incentivadas as actividades comerciais que faltassem através quer de subsídios quer de apoios ao nível burocrático na obtenção de licenças. A criação desta "bolsa" se bem aplicada constituiria um forte apoio a quem pretendesse investir no centro da cidade.
Projectos como o novo "Insitu" podem parecer muito bonitos no papel mas de pouco servem se depois não existirem placas indicativas quer dos monumentos quer das principais actividades comerciais procuradas por quem nos visita, e servem ainda de menos se as referidas máquinas estiverem desligadas como têm estado.
Cada vez menos pessoas moram no centro da cidade e cada vez têm menos motivos para o fazerem, as casas são as mais caras da cidade, não existem escolas, supermercados etc.
O centro histórico precisa de uma revolução cultural, comercial e social sob pena de se tornar cada vez mais num deserto, belo, mas sem vida, e muito menos sem oásis pelo meio.

Beijos e abraços

Mário Lima

1 comment:

Nuno Luz said...

Abrantes é uma cidade fantasma, só os turistas é que não o sabem,até tenho pena deles!