Saturday, May 14, 2011

Grandes superficiais

Segundo estudo publicado pelo pelo "Jornal de negócios" no mês de Abril, o salário médio do administrador do grupo retalhista Jerónimo Martins ascende num ano ao equivalente a 60 salários médios dos restantes colaboradores da empresa, o que perfaz um total de 662.230 Euros, enquanto que o salário médio anual da empresa cifra-se nos 10,861 Euros. Traduzindo estes valores para ganhos mensais, podemos verificar que o administrador do grupo aufere por mês cerca de 50 mil euros mês, ao passo que quem lhe proporciona o respectivo vencimento se fica pelos 775 Euros brutos, e sabemos que estas médias não reflectem a maioria dos salários pagos pela empresa uma vez que já terão os salários das chefias incluídos nestes valores que são naturalmente mais elevados que os dos restantes colaboradores.
É aqui apresentado o caso da Jerónimo Martins mas poderia apresentar de qualquer outro grande grupo retalhista que os resultados não seriam seguramente diferentes.
Os trabalhadores das grandes superfícies, sejam elas super ou hipermercados e centros comerciais representam hoje uma espécie de escravatura nacional do séc. XXI.
A grande maioria dos trabalhadores do grande retalho é mal paga, sujeita a turnos não remunerados ou pouco remunerados, não tem direito a fins de semana ou feriados, estando sujeitos a folgas rotativas que nem sempre são folgas planeadas atempadamente, que por vezes nos meses de Verão de forma a que os colegas possam gozar férias, nem podem ser gozadas para colmatar a falta do colega e muitas vezes acabam por ser as chefias a decidirem as datas em que podem gozar as suas férias.
Se compararmos os empregados dos grandes grupos retalhistas com por exemplo um administrativo, o empregado do grupo retalhista trabalha pelo menos mais 13 dias por ano que são correspondentes ao número de feriados celebrados em Portugal, isto se pelo meio não houverem as tão faladas pontes.
O argumento utilizado por parte dos retalhistas para a abertura aos Domingos e feriados e para os horários prolongados é que permitem que as pessoas façam as suas compras fora dos seus horários de trabalho flexibilizando assim o tempo disponível para realizarem as suas compras à hora que mais lhes for conveniente. É  um facto que para muitas pessoas estes horários são realmente úteis, no entanto, antes de chegarem as grandes superfícies retalhistas as pessoas também faziam as suas compras e nunca se viu ninguém a passar fome por não ter horas para ir às compras. É aliás assim por essa Europa fora.
Se eu enquanto cidadão tenho de organizar a minha vida para poder tratar de um qualquer assunto na administração pública que tem horários extremamente rígidos, por que motivo não o poderei fazer para tratar das minhas compras?
O que tem acontecido em Portugal, é que para alguns estarem cómodos outros estão a passar mal e isso não me parece próprio de uma sociedade que se pretende desenvolvida. 
No entanto para mim o grande problema que estas superfícies trazem, é o de "secarem" quase tudo à sua volta, é certo que se tornaram o grande empregador, sobretudo dos concelhos mais pequenos e interiores do país, mas se é verdade que a sua abertura criou muitos postos de trabalho, também é verdade que muitos foram os que se extinguiram na agricultura e pequeno comércio. E pior é que muitos investimentos nesses sectores que poderiam ser feitos no futuro não serão feitos pois é virtualmente impossível concorrer com estes gigantes.
O modelo de desenvolvimento nacional tem estado em grande parte assente neste tipo de estabelecimentos que para além do problema social que acabam por criar, ainda têm o problema de a maioria dos produtos que vendem serem resultado de importações. Reparem num qualquer grande centro comercial e verifiquem que na esmagadora maioria das marcas que possuem lojas nestes centros são estrangeiras. Este é um dos factores   que desequilibra a nossa balança comercial.
A actual crise poderá ser agora uma oportunidade para mudarmos este estado de coisas, para apostar num modelo de desenvolvimento mais arrojado em vários sectores como a agricultura, as pescas e todos os sectores produtivos. Acima de tudo, precisamos de empresários responsáveis e com visão, capazes da criação de marcas que possam ser o nosso cartão de visita lá fora. O resto virá por acréscimo. 
Eu acredito que somos capazes! Já temos provado que quando queremos a sério, sabemos superar-nos.

No comments: