Wednesday, June 27, 2007

Porque que não nos deixam trabalhar?

Afinal Manuel Pinho tinha razão. Tinha razão quando na sua visita à China disse aos líderes Chineses que podiam ir para Portugal, que os salários eram baixos, etc. O nosso Ministro da Economia parecia já estar ao corrente das alterações que o nosso "amigo" José Vieira da Silva, Ministro do Trabalho e da "Solidariedade" Social (de solidário tem muito pouco, pelo menos com os trabalhadores) se preparava para propor ao código do trabalho, no famigerado livro branco.
Esta proposta de alteração contém uma série de propostas seriamente preocupantes, como por exemplo a alteração do horário de almoço de uma hora para apenas meia hora, a diminuição do período de férias de 25 para 23 dias, a diminuição de salários e a introdução de horários sem restrições, entre outras aberrações.
Esta proposta irá sem dúvida agradar ao tecido empresarial (passam a pagar menos e nós passamos a trabalhar mais) que de alguns anos para cá tem vindo a reivindicar estas medidas, como forma de tornar a nossa economia mais produtiva e mais competitiva.
Estas alterações à lei laboral já vêem a ser planeadas discretamente à algum tempo atrás. À muito tempo que vários empresários, "opinion-makers", políticos, etc. repetem com a voz embargada, e em tom do mais grave alerta, que os salários são demasiado elevados para o que se produz, ou seja, os gestores desresponsabilizam-se pelos maus resultados das empresas que gerem, responsabilizando os trabalhadores pela fraca produtividade...
Estas medidas só irão contribuir para o agravar da crise social e das diferenças entre a classe média e a alta, uma vez que não me parece viável que os salários dos gestores, directores e executivos baixem, contribuindo desta forma para o aumento do descontentamento, e acima de tudo a curto prazo, irá virar-se contra o objectivo do aumento da produção e do crescimento económico.
Medidas como esta tratam-se pura e simplesmente de terrorismo social, não fazendo qualquer sentido num Estado dito moderno e liberal, pois retiram direitos que as pessoas foram adquirindo ao longo dos anos (e que não são de todo exagerados). Estas medidas, a serem aplicadas correm o risco de mergulhar o país na mais grave crise económica, financeira e social alguma vez vista e remetem-nos quase para as condições sociais dos primórdios da revolução industrial.
O bom senso diz-nos que se de facto os trabalhadores não são produtivos, também é verdade que os gestores, directores, patrões etc. também o são.
Um trabalhador só produz vinte peças por dia. Será que a máquina com que trabalha está devidamente calibrada? A máquina é moderna ou obsoleta? O operário recebeu a devida formação para operá-la em pleno?
Estes são apenas algumas pequenas questões que podemos colocar do porquê da falta de produtividade.
Num país onde a grande maioria do tecido empresarial ainda não assimilou conceitos básicos de gestão como a qualidade ou a gestão horizontal, culpar os funcionários pela falta de sucesso das empresas é naturalmente o caminho mais fácil.
Factores como a motivação, a formação, etc. são de extrema importância para as empresas, são normalmente factores de diferenciação entre as "boas" e as "más" empresas.
Por exemplo, é desejável que seja sempre ouvida a opinião dos trabalhadores de cada sector em matérias com as quais estão directamente relacionados. Nestes casos o gestor assume que não controla, nem domina todos os aspectos e funções de um determinado processo, devendo por isso ouvir as pessoas que diariamente lidam com esse mesmo processo, conhecendo os problemas podem por isso apresentar algumas sugestões válidas para a sua resolução. Este tipo de gestão irá criar uma sensação de relevo que leva o trabalhador a sentir que o seu contributo é importante para a organização.
A formação é outro aspecto importante, na medida em que não só aumenta o grau de capacidade técnica na execução das tarefas sejam elas quais forem, como de certa forma aumentam a auto-estima do trabalhador contribuindo desta forma para um melhor desempenho.
Todas estas fórmulas (apesar de não serem milagrosas) contribuem e muito para o sucesso de uma empresa, pois ajudam a criar um factor da maior importância, a identificação do trabalhador com a empresa, evitando desta forma o "turn-over" (saída de empregados para outras empresas), o absentismo e o aumento do grau de satisfação do trabalhador, o que leva indirectamente ao aumento da produção.
Ora, sabemos que no nosso tecido empresarial na maioria das vezes nem tão pouco as regras básicas da boa educação, da cortesia e do respeito mútuo são lembradas, em que por vezes um simples "bom dia" parece um sacrifício ou nem sequer existe. Torna desta forma impossível criar uma empatia patrão/empregado tão importante para o sucesso.
Um Estado competente e progressista tentaria começar por aí, sendo certo que não traria resultados imediatos mas apenas a longo prazo, e necessitava da boa vontade de todos nós. Um Estado retrógrado e pobre de espírito como o nosso opta pelo caminho mais fácil que é este que tem vindo a seguir.
Um dia, quando as mentalidades forem diferentes, e patrões e empregados, gestores e operários, governos e população, poderem aceitar a importância e a relevância que cada um deles desempenha em qualquer organização,seja ele gestor ou empregado não qualificado, aí sim, talvez nos deixem trabalhar.

Beijos e abraços

Mário Lima

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